quinta-feira, 3 de agosto de 2017

A igreja deve pagar seus músicos?

O tema do nosso post de hoje é bem delicado e por isso precisa ser discutido com parcimônia e amadurecimento antes que o Ministério do Trabalho ou Previdência Social, sempre ávidos por novos contribuintes, acabem batendo às portas de igrejas e templos evangélicos: o músico deve ser remunerado para tocar nos cultos?
Esse é um debate bastante atual no cenário evangélico brasileiro tendo em vista a importância e o justo reconhecimento que a categoria tem recebido por parte de suas comunidades e também fora delas já que é da igreja que muitos músicos de ponta têm surgido para o cenário secular.
Formar uma opinião a respeito do pagamento desses músicos requer o exame das duas principais correntes de opiniões que ecoam dessa discussão: a que diz que o músico deve servir sua comunidade de maneira voluntária sob o receio de que, do contrário, perca-se o valor do serviço cristão que deve partir do coração de cada um e com ofertas voluntárias. Por outro lado, existe uma parcela da sociedade que defende ser justo remunerar os profissionais que se dedicam integralmente ao trabalho espiritual e que para isso têm como veículo a Música. Diz um ditado popular que ora duas vezes aquele que louva fervorosamente.
Aqui no blog e nas ações da nossa fanpage temos nos dedicado a mostrar caminhos possíveis para sobreviver como profissional da Música e, dessa vez, vamos nos ater aos argumentos da ala favorável ao pagamento dos músicos da igreja.
Ainda que muitos discordem severamente dessa prática, começam a surgir exemplos de igrejas que dispõem de mais recursos contratando músicos para o serviço ministerial e os remunerando com um salário fixo que claramente não chegam nem perto da cifras alcançadas pelos palcos do mundo, mas que abarcam o digno e justo sustento de suas famílias. 
São comunidades que não têm hesitado em melhorar a qualidade do trabalho musical, ora investindo na profissionalização dos que se sentem chamados a servir como músicos, ora, aprimorando os recursos como na compra de instrumentos e acessórios musicais de qualidade além da construção de espaços dedicados aos ensaios, para melhor contribuir com o crescimento dos responsáveis pela atividade musical na exata medida de como os músicos contribuem para o crescimento espiritual do próximo. 
Um dos entraves para que se chegue a um consenso sobre se o músico deve ou não ser remunerado pela igreja repousa no fato de que nem todos consideram o desempenhar da Música um trabalho! Alguns músicos que tocam em igrejas apontam que algumas delas têm dificuldade de entender a profissão a ponto de sustentá-los financeira ou até espiritualmente, ao passo que o contrario também é realidade: há músicos que não entendem o que é o Ministério e deixam de atuar voluntariamente em trabalhos e projetos evangelísticos quando podem.
Investimento em instrumentos ocorre para melhor o serviço dos músicos
A Bíblia diz que “o trabalhador é digno do seu salário” (Mateus 10:10 e Lucas 10:7) e este é um dos principais argumentos usados pelos que defendem o pagamento de músicos nas igrejas. De fato, os textos dizem que aquele que realiza algum trabalho merece a remuneração que lhe é devida, no entanto, não estão falando exclusivamente dos músicos. Logo, partindo desse pressuposto, a prática da remuneração deveria se estender a todos que se dedicam à igreja, mas, admitindo essa posição, não estaria a comunidade seguindo para um confuso e desordenado caminho de profissionalização da vida eclesiástica e abandonado o sentido nato, mais puro e sincero do servir?
O músico que têm como sustento o trabalho fora da igreja, muitas vezes se vê em uma “sinuca de bico”, pois, geralmente é nos fins de semana o momento em que ele é mais requisitado para fazer shows, em teatros ou bares, ou seja, mesmo período em que a igreja está mais atuante. Algumas igrejas têm sanado essa questão remunerando seus músicos e, assim, claro, contando com eles em tempo integral.
Igrejas que escolheram remunerar seus músicos o fazem baseadas na dedicaçõ integral deles à obra
Ficar disponível inteiramente ao trabalho ministerial também ajuda o músico cristão a sanar um duro conflito que consiste no fato e que muitos não mais se sentem a vontade em trabalhar em ambientes que vão no sentido oposto de sua filosofia de vida: bares, casos noturnas, danceterias, enfim, locais que não condizem mais com a verdade daquele vocalista ou instrumentistas, cantando e tocando conteúdos que muitas vezes encorajam o público a comportamentos escusos, inadequados  e contrários ao próprio pensamento cristão.
Outra problemática a ser refletida: algumas igrejas pagam cachês indiscriminadamente à músicos que não frequentam as atividades daquela comunidade para tocarem esporadicamente, o que gera um certo mal estar, pois, seus membros não podem afirmar sobre sua verdadeira conversão, se esses músicos são genuínos servos de Deus. Nesse caso, há quem defenda então que se remunere os músicos do Ministério para que possam atuar com tranquilidade e se dedicarem integralmente à obra.
A maior parte das igrejas que remuneram seus músicos justifica a decisão como possibilidade da comunidade abençoar os seus levitas e estimulá-los já que alguns líderes ministeriais acabam tendo de lidar com músicos desanimados, que não se preparam técnica ou espiritualmente.
Neste cenário, o mais comum é que a remuneração ou salário seja opção para os músicos que se dedicam integralmente à obra, dispondo-se totalmente ao serviço. Claro, a remuneração não exime o músico daquelas muitas atividades necessárias na igreja e que nem sempre serão remuneradas: é preciso ter discernimento dos momentos em que se pode considerar merecedor de um pagamento.
Algumas igrejas decidiram remunerar seus músicos
Abrindo essa discussão a todos e correndo o risco de sermos mal interpretados por muitos pastores e responsáveis pelos Ministérios da Música, esclarecemos que agimos de acordo com nossa consciência e visão sempre bastante explícita aos que acompanham nossos canais de comunicação: acreditamos que o músico deve ser valorizado e respeitado em todos os lugares que atua como tal.
Entretanto, no ambiente especial da igreja deve-se manter a clareza de que, mais do que músico, o que se deseja realmente é ser reconhecido como um adorador que move o coração de Deus,  ainda que esse profissional, com sua comunidade e seu pastor, chegue ao consenso de que é merecedor de ser remunerado para tocar.
Nossa intenção é contribuir para um debate saudável e franco e, claro, queremos saber sua opinião sincera, músico evangélico ou não, sobre esse assunto. Você acha justo pagar um músico evangélico por seu trabalho na igreja? Qual é a sua experiência junto à sua comunidade? Use também o espaço em nossas redes sociais, principalmente na fanpage (facebook.com/SantoAngeloCabos) para trocar ideias em tempo real com outros músicos!       
Bom debate e até a próxima!

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